A busca

Quando penso em identidade, questiono-me sobre exatamente quem sou eu.

Tenho pré-nome, nome e sobrenome; tenho pai, mãe, irmãos, filhos e netos; nasci em determinada nação (e me penso sua “filha”); tenho determinadas características físicas (que, como todo o resto, mudam com o passar do tempo) – tenho um emprego, algumas habilidades, um pouco do que se chama conhecimento... Mas quem sou eu?

A identidade do homem e da mulher não pode se resumir àquilo que o/a compõe num determinado tempo e espaço – vai muito além – vai a um ponto, talvez, que não alcancemos de fato.

Porém, vejo na minha identidade – assim me identifico, me reconheço – o resultado de inúmeras gerações que se duplicaram e se duplicaram e tornaram a se duplicar, até chegar a mim – à minha pessoa – única, típica em mim mesma – um contêiner de um sem fim de histórias, o resultado de incontáveis(e ainda inacabadas) tentativas de definir uma identidade – HUMANA.

Desse pensar surge em mim a sensação de que meus antepassados são a estrutura básica de quem sou , e eu, por outro lado, a presente (e temporal) razão da existência de meus antepassados.

Se são para mim tão essenciais, é importante que eu saiba sobre eles – quem foram, de onde vieram, o que faziam, como viviam, como “progrediram” , em que acreditavam, de que morriam... Parte do que sei é história, parte é memória e parte, ainda, são “contos”, “fábulas”, criações da mente humana – mas são, de toda forma, a “lembrança” de minha história, o registro de quem eu sou.

É nesse pensar, nesse caminhar da vida, que busco resgatar algum aspecto da história dos negros brasileiros – aqueles cujos ancestrais aqui chegaram na condição social de escravos – mas que não o eram de fato. Cada indivíduo negro, em sua individualidade, era único e se duplicou e duplicou e tornou a duplicar-se até chegar aos brasileiros de hoje – homens e mulheres cuja identidade será reconhecida e respeitada a partir do conhecimento de sua própria história: do caminhar de seus ancestrais.

Essa é a essência deste Projeto.

Maria Lígia Conti